Pular para o conteúdo principal

O Zen e o gato


Um grande professor do Darma, já velho percebeu um pequeno gato no seu caminho para o Zazen. O felino parecia cansado e fraco e não parecia ter “parentes” próximos... O Professor lhe pegou no colo e cobriu com seu casaco e lhe carregou até o Zendô. Lá ele lhe serviu leite em um pote e deixou o gatinho deitado sobre uma almofada. Sentou-se em zazen e pôs-se a meditar. No dia seguinte o gatinho já estava esperando o professor na sala de prática e quando o professor sentou-se em Zazen o gatinho começou a miar. 




Um de seus alunos ia afugentar o pequeno gato mas o professor não permitiu. Novamente pegou leite e um pote e deixou do lado de fora do Zendô junto a porta. O gato bebeu o leite e deitou na almofada olhando para tudo com preguiça.


Isto se repetiu por uns dias até que um aluno, quando via o mestre na subida para o Zendô já trazia uma almofada em um pote com leite para o “gato do professor”.


Os dias passaram e o mestre zen se tornou responsável pelo mosteiro de Mayu Kagi. Lá manteve-se a rotina, durante as aula de meditação, mantinha o gato ao seu lado - para desfrutar o mais possível de sua companhia.


Certa manhã, o mestre - que já estava bastante velho – foi encontrado morto. O discípulo mais graduado ocupou seu lugar.


- O que vamos fazer com o gato? - perguntaram os outros monges.


Numa homenagem à lembrança de seu antigo instrutor, o novo mestre decidiu permitir que o gato continuasse freqüentando as aulas de zen-budismo.


Alguns discípulos de mosteiros vizinhos, que viajavam muito pela região, descobriram que, num dos mais afamados templos do local, um gato participava das meditações. A história começou a correr.


Muitos anos se passaram. O gato morreu, mas os alunos do mosteiro estavam tão acostumados com a sua presença, que arranjaram outro gato. Enquanto isso, os outros templos começaram a introduzir gatos em suas meditações: acreditavam que o gato era o verdadeiro responsável pela fama e a qualidade do ensino de Mayu Kagi e esqueciam-se que o antigo mestre era um excelente instrutor.


Uma geração se passou e começaram a surgir tratados técnicos sobre a importância do gato na meditação zen. Um professor universitário desenvolveu uma tese - aceita pela comunidade acadêmica - que o felino tinha capacidade de aumentar a concentração humana e eliminar as energias negativas.


E assim, durante um século, o gato foi considerado como parte essencial no estudo do zen-budismo naquela região.


Até que apareceu um mestre que tinha alergia a pelos de animais domésticos e resolveu tirar o gato de suas práticas diárias com os alunos.

Houve uma grande reação negativa - mas o mestre insistiu. Como era um excelente instrutor, os alunos continuavam com o mesmo rendimento, apesar da ausência do gato.


Pouco a pouco, os mosteiros - sempre em busca de idéias novas, e já cansados de ter que alimentar tantos gatos - foram eliminando os animais das aulas.


Em vinte anos, começaram a surgir novas teses revolucionárias - com títulos convincentes como "A importância da meditação sem o gato", ou "Equilibrando o universo zen apenas pelo poder da mente, sem a ajuda de animais".



Na minha versão a moral é que a prática se dá NA PRÁTICA. Com ou sem gatos. Com ou sem retóricas a defender.





Versão do Paulo Coelho: http://warriorofthelight.com/port/edi13_import.shtml

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONVERSAS ANÔNIMAS! VOCÊ, SEU NARCISISTA!!!

Gostaria de falar sobre esta postagem: Nada mais comum que uma postagem cheia de senso comum e conhecimento vulgar com uma compreensão enviesada do mundo. Tudo bem até aí? Só que não. Uma postagem assim além de reforçar o senso comum, lhe da uma validade. O que é ERRADO! A afirmação de que todo psicopata é narcisista é "FALSA"! E induz ao erro e preconceitos. Primeiro que não explica de que narcisismo se esta falando , segundo porque também não explica que o termo “psicopata” não é um diagnóstico válido descrito! Nem   está incluído no CID-10 e nem mesmo no DSM-5 ou em qualquer outro manual! Existe um natural "Narcisismo saudável", uma fase do comportamento que visa atender as próprias necessidades de forma equilibrada e respeitosa, sem prejudicar ou explorar os outros. Uma pessoa com narcisismo saudável tem uma autoimagem positiva, uma autoestima elevada, uma autoconfiança adequada e um nível aceitável de auto importância. O narcisismo saudável pode ser visto com

TERAPEUTAS... são imperfeitos.

  “Médicos são tão f*didos quanto nós”: como Shrinking quer descomplicar a terapia Nova série da Apple TV+ acompanha psicólogo que decide abandonar as “boas práticas” e se mostrar mais humano para seus pacientes 5 min de leitura MARIANA CANHISARES 26.01.2023, ÀS 06H00 ATUALIZADA EM 31.08.2023, ÀS 12H12 No conforto — ou seria desconforto? — da terapia, é rápido presumir que o psicólogo do outro lado da sala tem sua vida em ordem. Esta é, afinal de contas, uma relação unilateral: um revira os dramas e dilemas do passado, do presente e do futuro, enquanto o outro ouve, pergunta e toma notas. Não há propriamente uma troca — ao menos não no sentido isométrico da expressão. Porém, essa visão, corroborada por vezes pela cultura pop, não corresponde à realidade, como analisou, entre risos, o produtor, roteirista e diretor  Bill Lawrence  ( Ted Lasso ), em entrevista ao  Omelete .  “Nos Estados Unidos, quando se faz uma série sobre médicos ou terapeutas, geralmente eles não são pessoas falhas o

Barabim... barabum... baraBeakman!!!

Quase todo nerd na faixa dos vinte ou trinta anos assistiu a alguma das experiências científicas do programa ''O Mundo de Beakman'' . Com um inconfundível jaleco verde e ideias malucas na cabeça, ele conquistou fãs por todo o mundo. Paul Zaloom, ator que interpretava o cientista maluco, esteve no Brasil e falou sobre ciência e do sucesso dele no nosso país. Ele atendeu ao blogueiro d o "O Manual do Mundo" (que recentemente atingiu a casa dos 60 milhões de views) que comemorou a marca presenteando o seu público com a entrevista com   Paul  ~ professor maluco de penteado irado  Beakman ~   Zaloom , em pessoa. Para quem não conhece "O Mundo de Beakman" foi uma série exibida no Brasil na década de 1990, na TV Cultura, e reprisada algumas vezes nesse e em outros canais. O programa, extremamente dinâmico e divertido, foi marcante para quem nasceu na década de 1980 e para os que assistiram depois. Paul Zaloom veio para São