Pular para o conteúdo principal

Douglas Adams o senhor das toalhas


Roubado do Nerd Pai



Pense num pequeno computador do tamanho de uma revista de variedades, com uma tela e poucos botões. Imagine que esse aparelho disponibilizasse todo o conhecimento do universo a quem quer que fosse, e que seus verbetes pudessem ser atualizados através de uma rede por qualquer um. Obviamente você vai pensar no iPad, certo?
Errado, pois ele foi inventado em 1978.
O Guia do Mochileiro das Galáxias, originalmente um programa de rádio que virou uma trilogia de quatro livros (que, por mero acaso, são cinco), contava as desventuras de Arthur Dent, o humano mais histérico que se tem notícia (até porque ele é o último humano e, além disso, é inglês), tentando se encaixar no universo após a Terra ter ido, literalmente, pelos ares. E a genialidade desse livro, tão hilariamente delicioso e relevante se deve à visão de futuro acidental (mas nem por isso fantasiosa) de seu autor, Douglas Neal Adams.
De iPads, Wikipedia, Douglas Adams e galinheiros
O que torna os livros tão apaixonantes não é (apenas) seu humor ácido e contundente, mas o alicerce firme na ciência. Assuntos comuns à física quântica ou biologia foram muito bem descritos e vestidos com irreverência, o  que torna a leitura agradável para leigos mas muito mais rica para quem entende do assunto. Como se não bastasse, muito do que foi descrito na série é utilizado por nós hoje.
Por exemplo: não há como hoje imaginar no Guia em si sem pensar nisso aqui:
De iPads, Wikipedia, Douglas Adams e galinheiros 02Não só iPads e tablets, o próprio conceito de repositório colaborativo para o conhecimento que se tornou o Wikipedia foi previsto por ele (Isaac Asimov também o fez de forma mais ampla, mas isso é assunto para outro post). Em seu livro “How to stop worrying and learn to love the internet”, Douglas Adams diz que a comunicação ficará mais interativa e teremos mais modos de falar com as pessoas. Hoje, o que não falta é opção para se comunicar. E não esqueçamos do Babel Fish, que inspira diversos apps de tradução em tempo real, como o Google Translate, que ajuda a derrubar uma das mais complexas barreiras na comunicação, a língua.
Mas Adams se consagrou mesmo como escritor de humor. Não só d’O Guia, mas de muitas esquetes para televisão, inclusive para o antológico Monty Python Flying Circus (ele aparece em dois episódios, um deles, ironicamente, o 42, quatro anos antes do programa de rádio estrear). Além disso era músico, e um dos poucos que podia se gabar dizendo “eu toquei com o Pink Floyd” (só há registro do áudio):


Além disso, Adams era aficcionado pela Apple. Foi o primeiro britânico a comprar um Mac, em 1984. Fez um videoclipe usando uma das primeiras versões do iMovie, filmando sua filha Polly (que nasceu quando ele tinha… 42 anos). No prefácio d’O Guia do Mochileiro, Bradley Greive descreve que Adams “provavelmente possuiu e usou mais computadores da marca Apple do que qualquer outra pessoa, a não ser talvez o próprio Steve Jobs”. E ainda era um “Apple Master”, um representante oficial da empresa no meio artístico.
Ativista ambiental, Adams junto com Mark Cawardine criou um documentário para a rádio BBC chamado “Last Chance to See”, em que ambos viajavam para diversos lugares em busca das mais ameaçadas espécies do planeta.
Douglas Adams, escritor, futurólogo, applemaníaco, ativista e “limpador de galinheiros e guarda-costas de família governante de Qatar (citação real!)”, nos deixou em 11 de maio de 2001, de uma forma tão irônica que parece passagem de um de seus livros: enquanto descansava após fazer exercícios em sua academia particular, teve um ataque fulminante e morreu.
Richard Dawkins dedicou seu livro “Deus, um Delírio” a ele, com as palavras: “A Ciência perdeu um amigo, a literatura perdeu um astro, o gorila-das-montanhas e o rinoceronte negro perderam um galante defensor”.
Eu já acredito que Adams se antecipou aos golfinhos e se pirulitou, pegando carona com Zaphod Beeblebrox. Afinal, se ele sabia a pergunta para A Resposta para a Vida, o Universo e Tudo o Mais (e ninguém entendeu, obrigando-o a explicar a piada), ele ia ficar aqui marcando touca a troco de quê?
Godspeed Mr. Adams, e espero que não tenha esquecido sua toalha. :)
Ronaldo Gogoni
Profissional de TI, gamer em tempo integral e filho da cultura pop dos anos 80. Adora ficção-científica e literatura fantástica, e sonha com o dia em que a humanidade não estará limitada a nosso pálido ponto azul.
Twitter 


Texto original do NerdPai.com: De iPads, Wikipedia, Douglas Adams e galinheiros - Nerd Pai http://nerdpai.com/de-ipads-wikipedia-douglas-adams-e-galinheiros/#ixzz1wRhXJKzz

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONVERSAS ANÔNIMAS! VOCÊ, SEU NARCISISTA!!!

Gostaria de falar sobre esta postagem: Nada mais comum que uma postagem cheia de senso comum e conhecimento vulgar com uma compreensão enviesada do mundo. Tudo bem até aí? Só que não. Uma postagem assim além de reforçar o senso comum, lhe da uma validade. O que é ERRADO! A afirmação de que todo psicopata é narcisista é "FALSA"! E induz ao erro e preconceitos. Primeiro que não explica de que narcisismo se esta falando , segundo porque também não explica que o termo “psicopata” não é um diagnóstico válido descrito! Nem   está incluído no CID-10 e nem mesmo no DSM-5 ou em qualquer outro manual! Existe um natural "Narcisismo saudável", uma fase do comportamento que visa atender as próprias necessidades de forma equilibrada e respeitosa, sem prejudicar ou explorar os outros. Uma pessoa com narcisismo saudável tem uma autoimagem positiva, uma autoestima elevada, uma autoconfiança adequada e um nível aceitável de auto importância. O narcisismo saudável pode ser visto com

TERAPEUTAS... são imperfeitos.

  “Médicos são tão f*didos quanto nós”: como Shrinking quer descomplicar a terapia Nova série da Apple TV+ acompanha psicólogo que decide abandonar as “boas práticas” e se mostrar mais humano para seus pacientes 5 min de leitura MARIANA CANHISARES 26.01.2023, ÀS 06H00 ATUALIZADA EM 31.08.2023, ÀS 12H12 No conforto — ou seria desconforto? — da terapia, é rápido presumir que o psicólogo do outro lado da sala tem sua vida em ordem. Esta é, afinal de contas, uma relação unilateral: um revira os dramas e dilemas do passado, do presente e do futuro, enquanto o outro ouve, pergunta e toma notas. Não há propriamente uma troca — ao menos não no sentido isométrico da expressão. Porém, essa visão, corroborada por vezes pela cultura pop, não corresponde à realidade, como analisou, entre risos, o produtor, roteirista e diretor  Bill Lawrence  ( Ted Lasso ), em entrevista ao  Omelete .  “Nos Estados Unidos, quando se faz uma série sobre médicos ou terapeutas, geralmente eles não são pessoas falhas o

Barabim... barabum... baraBeakman!!!

Quase todo nerd na faixa dos vinte ou trinta anos assistiu a alguma das experiências científicas do programa ''O Mundo de Beakman'' . Com um inconfundível jaleco verde e ideias malucas na cabeça, ele conquistou fãs por todo o mundo. Paul Zaloom, ator que interpretava o cientista maluco, esteve no Brasil e falou sobre ciência e do sucesso dele no nosso país. Ele atendeu ao blogueiro d o "O Manual do Mundo" (que recentemente atingiu a casa dos 60 milhões de views) que comemorou a marca presenteando o seu público com a entrevista com   Paul  ~ professor maluco de penteado irado  Beakman ~   Zaloom , em pessoa. Para quem não conhece "O Mundo de Beakman" foi uma série exibida no Brasil na década de 1990, na TV Cultura, e reprisada algumas vezes nesse e em outros canais. O programa, extremamente dinâmico e divertido, foi marcante para quem nasceu na década de 1980 e para os que assistiram depois. Paul Zaloom veio para São