Pular para o conteúdo principal

Só tecido morto não dói



por Alex Castro sobre Desenvolvimento Pessoal em 18/09/2012 - no http://www.portalhomem.com.br
 


Levamos todos porrada da vida.
Ninguém é sempre campeão. Não somos semideuses.
Atrás de toda pessoa feliz, deveria existir um homem com um martelo – para lhe golpear periodicamente a cabeça.
Só para lembrar que existem pessoas infelizes no mundo.
Só pra lembrar que elas também amanhã estarão infelizes.
Só porque ninguém é tão egoísta e autocentrado quanto alguém autenticamente feliz.
* * *
Um belo dia, chega a porrada.
Sofremos a traição e saboreamos a desilusão.
E é o fim de tudo: nunca mais confiaremos em ninguém, estamos fechados pro amor.
Sentamos na sarjeta e choramos. Choramos nossa miséria, nossa feiúra, nossa desesperança.
Tão autocentrados, coitados de nós, quanto durante o auge da felicidade...
* * *
Um dia, a dor também passa.
Porque, afinal, apesar da dor e do horror, uma das mais importantes leis da física é a seguinte:
"Lavou, tá novo."
A dor e o prazer, a alegria e a tristeza: como diria o cobrador, é tudo passageiro.
Não há mal que tanto dure, nem bem que tanto perdure.
* * *
Mas existe um fascínio inegável pela sarjeta.
Por andar se arrastando.
Por fazer um espetáculo de nossa tristeza.
Por jurar, copo de chope na mão, que o amor, ah!, esse nunca mais!
São como aqueles cachorros que você tenta acariciar... e eles estremecem de medo, se encolhem de horror, afastam a cabeça, se colocam fora da possibilidade do soco.
Você percebe na hora: alguém um dia cobriu aquele cachorro de porrada.
Ele apanhou.
Ele sofreu.
E nunca mais esqueceu.
* * *
Diz o budismo que toda emoção é dor.
Que não existe emoção puramente prazeirosa que não vá, em algum momento, se converter em dor.
O carinho que sente pela namorada será inversamente proporcional à sua dor por perdê-la.... e perdê-la você vai, seja porque ela cansou de você, morreu ou o sol explodiu.
De qualquer modo, tudo é impermanente:
O bom e o mau. A dor de dente e o gozo. Eu e a Via Láctea.
Ainda assim, até fazermos nossos votos de monge budista, é preciso colocar a cara a tapa. Se arriscar. Tentar amar de novo.
Mesmo sabendo que vamos sofrer. Mesmo sabendo que vai doer.
Porque sempre dói.
O hamburguer do McDonald's não apodrece porque não é comida. A maçã que você morde fica marrom porque ela está viva.
Só tecido morto não dói.
* * *
Tenho um conhecido cuja autodescrição do Twitter é "pairando sobre um mundo hostil".
Fico triste por ele. Ninguém merece viver num mundo hostil.
Mesmo se o mundo for hostil de verdade.
Especialmente se o mundo for hostil de verdade.
* * *
Penso sempre em uma pintora que foi estuprada três vezes ao longo de sua vida. Quando perguntaram como se recuperou e o que fez para voltar a ter relações saudáveis com homens, ela respondeu:
“Em um dado momento, temos que escolher quem permitimos que nos influencie. Eu poderia me permitir ser influenciada pelos três homens que me fuderam contra a vontade, ou podia escolher ser influenciada por Van Gogh. Escolhi Van Gogh.
* * *
Tomei lá minha farta dose de porradas em 2011 e 2012. Quando achei que não tinha como ficar pior, ficou. Quando achei que tinha me livrado dos malucos, apareceram piores.
Mas me recuso a ser o cachorro que se encolhe diante da possibilidade do soco – ou da carícia.
Sei que vou levar outros socos, e sei também que vou receber outras carícias. Provavelmente, como quase sempre acontece, dadas pelas mesmas pessoas.
É melhor andar feliz e despreocupado por um mundo belo e seguro e, de vez em quando, levar uns tombos pelo caminho (eu sei me levantar!) do que viver sempre em um ambiente feio e hostil, cercado por cretinos e canalhas.
Desfiz minhas barreiras. Abaixei meus escudos. Me expus à dor e ao amor.
Sejam gentis.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CONVERSAS ANÔNIMAS! VOCÊ, SEU NARCISISTA!!!

Gostaria de falar sobre esta postagem: Nada mais comum que uma postagem cheia de senso comum e conhecimento vulgar com uma compreensão enviesada do mundo. Tudo bem até aí? Só que não. Uma postagem assim além de reforçar o senso comum, lhe da uma validade. O que é ERRADO! A afirmação de que todo psicopata é narcisista é "FALSA"! E induz ao erro e preconceitos. Primeiro que não explica de que narcisismo se esta falando , segundo porque também não explica que o termo “psicopata” não é um diagnóstico válido descrito! Nem   está incluído no CID-10 e nem mesmo no DSM-5 ou em qualquer outro manual! Existe um natural "Narcisismo saudável", uma fase do comportamento que visa atender as próprias necessidades de forma equilibrada e respeitosa, sem prejudicar ou explorar os outros. Uma pessoa com narcisismo saudável tem uma autoimagem positiva, uma autoestima elevada, uma autoconfiança adequada e um nível aceitável de auto importância. O narcisismo saudável pode ser visto com

TERAPEUTAS... são imperfeitos.

  “Médicos são tão f*didos quanto nós”: como Shrinking quer descomplicar a terapia Nova série da Apple TV+ acompanha psicólogo que decide abandonar as “boas práticas” e se mostrar mais humano para seus pacientes 5 min de leitura MARIANA CANHISARES 26.01.2023, ÀS 06H00 ATUALIZADA EM 31.08.2023, ÀS 12H12 No conforto — ou seria desconforto? — da terapia, é rápido presumir que o psicólogo do outro lado da sala tem sua vida em ordem. Esta é, afinal de contas, uma relação unilateral: um revira os dramas e dilemas do passado, do presente e do futuro, enquanto o outro ouve, pergunta e toma notas. Não há propriamente uma troca — ao menos não no sentido isométrico da expressão. Porém, essa visão, corroborada por vezes pela cultura pop, não corresponde à realidade, como analisou, entre risos, o produtor, roteirista e diretor  Bill Lawrence  ( Ted Lasso ), em entrevista ao  Omelete .  “Nos Estados Unidos, quando se faz uma série sobre médicos ou terapeutas, geralmente eles não são pessoas falhas o

Barabim... barabum... baraBeakman!!!

Quase todo nerd na faixa dos vinte ou trinta anos assistiu a alguma das experiências científicas do programa ''O Mundo de Beakman'' . Com um inconfundível jaleco verde e ideias malucas na cabeça, ele conquistou fãs por todo o mundo. Paul Zaloom, ator que interpretava o cientista maluco, esteve no Brasil e falou sobre ciência e do sucesso dele no nosso país. Ele atendeu ao blogueiro d o "O Manual do Mundo" (que recentemente atingiu a casa dos 60 milhões de views) que comemorou a marca presenteando o seu público com a entrevista com   Paul  ~ professor maluco de penteado irado  Beakman ~   Zaloom , em pessoa. Para quem não conhece "O Mundo de Beakman" foi uma série exibida no Brasil na década de 1990, na TV Cultura, e reprisada algumas vezes nesse e em outros canais. O programa, extremamente dinâmico e divertido, foi marcante para quem nasceu na década de 1980 e para os que assistiram depois. Paul Zaloom veio para São