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Do desejo que se aloja na raiz de toda a paixão humana...

Do desejo que se aloja na raiz de toda a paixão humana...


Por Patativa Moog


Talvez nenhuma outra doutrina, mais que a do budismo1, tenha combatido tanto o Eu, e o Desejo, e a tirania dos sentidos. “O caminho do budismo é o caminho da aniquilação do Eu e, portanto, do mundo dos fenômenos.2” Mas, posso pensar de um modo que parece simplista: não há a aniquilação do Eu sem que, também, haja a vontade de que ele seja aniquilado... no próprio Eu. Um contrassenso? Sim. O Eu, naturalmente, não deseja o que é contrário a si, sem que julgue isso, embora cegamente, algum bem. O Eu que deseja escapar do sofrimento, enfrentando seus agentes em direção ao Nirvana, precisa estar a caminho. Mas, que caminho? O caminho do Buda3. É como se pode ler no Visuddhi Magga:

Só há sofrimento, não
há sofredor.
Não há agente, só há
o ato.
O Nirvana é, mas não
aquele ou aquela que o
procura.
O caminho existe, mas não
aquele ou aquela que nele anda.4

Mais que o indivíduo, que nada é, que nada deve ser – ao menos aí, em uma clara relação à doutrina brâmane do Eu, ou ātman –, é o sofrimento (dukha), e a ação (karmanta), e o Nirvana e seu caminho (aṣṭapāda). Consta que um asceta itinerante chamado Vaccha, diante do Buda, apresentou-lhe as teses e antíteses do que, segundo ele, era a doutrina do Abençoado. O Buda não somente as nega como, para a perplexidade de Vaccha, afirma que era “livre de qualquer teoria”5. Isso, assim negado, não requer uma teoria? Sim, e o Buda tem uma. Ela se revelada na pergunta que ele mesmo faz ao errante Vacchagotta: “Para onde vai um fogo que se apagou? Para leste, oeste, sul ou norte?6” Aqui, um parêntese. O fogo, no imaginário popular, também está relacionado às afecções da nossa alma, e ao amor erótico7. Dizemos: “passou o fogo da paixão”; “o fogo apagou”, etc. E daí o trechinho de “Almanaque”, na música do Chico: “Me responde, por favor / Pra onde vai o meu amor / Quando o amor acaba?8” E daí este poeminha, no mesmo espírito:

Quando o amor acaba
O quanto de nós vai junto,
Em pele, unhas, cabelos...?
Ah!, & os livros devolvidos
& os discos do Bob Dylan...

E onde estará, agora,
A presença que enchia a sala
O corpo sobre a cama suada
& o cheiro que ficava...?

E o que vê, agora,
O rosto que enchia o espelho
De rímel, batom & sombra...?

Ah!, repara a porta aberta...
& a casa vazia, esperando 
Olhando a rua silenciosa
De um dia como hoje
– a tarde de um domingo

Ah!, responda, responda: 
Para onde é que vai o amor
Depois que o amor acaba?

Como a chama que se vai, também o fogo das paixões eróticas. A analogia é simples, mas pratiquíssima ao que pretendo, voltando à pergunta do Buda que Vaccha confessa ignorar a resposta, permitindo que o Abençoado compare o arhat (aquele que atingiu o Nirvana) ao fogo extinto. Qualquer que fosse a afirmativa referente à sua existência não seria mais que uma simples conjectura. Claro que, aí, se aceitamos a analogia e a doutrina do Iluminado, caímos também no seu idealismo, e na fé confiante. Foi assim que Schopenhauer permaneceu no idealismo, ao ponto de afirmar que “o verdadeiro filósofo deve ser um idealista”9. Estava errado, miseravelmente. Amo Schopenhauer, mas amo ainda mais a minha verdade. E “o ‘eu’, por trás de nós oculto”, como dizia Emily Dickinson, ainda “é muito mais assustador.”10
Uma das passagens mais famosas da biografia do Buda é aquela em que ele é tentado pelas filhas do demônio Māra – representação do seu Eu oculto, assustador; um tipo de “lado negro”, um demônio interior, a Morte e Diabo conjugados, o Senhor do Ego e da Ilusão. Depois de atingir a iluminação, o Buda permaneceu sob a árvore Bodhi11, com as pernas cruzadas, imóvel por sete dias. “Encontrei a libertação”, ele pensou. Na quarta semana, mergulhado em profunda meditação, ainda sob a boMāra – inconsolável com a sua derrota – vai a ao seu encontro, dizendo-lhe:

“Bem-aventurado és tu, por permaneceres e por conheceres o caminho para a libertação. Apague a lâmpada, extingue a sua chama e entre no Nirvana, oh, Bem-Aventurado! É a hora.”
Ao que o Buda lhe respondeu:
“Não, Māra! Eu não extinguirei a chama, nem entrarei no Nirvana. Devo primeiro conquistar muitos discípulos, e eles, por sua vez, devem ganhar outros sob a minha doutrina. Através da palavra e da ação, devo silenciar meus adversários. Não, Māra! Eu não entrarei no Nirvana até que o Buda seja glorificado em todo o mundo, e até que a sua lei benéfica seja reconhecida.”
E Māra o deixou, cabisbaixo. Parecia ouvir as vozes divinas zombando de seu fracasso:
“Você foi derrotado, Māra”, diziam, “e permanece envolto em pensamentos, como uma velha garça-real. Você é impotente, Māra!, como um velho elefante atolado num pântano. Pensou que era um herói, e está mais fraco que um homem doente abandonado na floresta. De que adiantaram as suas palavras insolentes? Foram tão fúteis quanto o murmúrio dos corvos.”
Nisso, Māra pegou um galho seco e, com ele, desenhava figuras na areia. Suas três filhas, Rati, Arati e Trishna viram-lhe assim, aflito, e ficaram abatidas.
“Pai”, Rati falou, “por que você está tão melancólico?”
“Fui derrotado por um homem santo”, ele respondeu. “Ele resistiu à minha força e à minha astúcia”.
“Pai”, disse Trishna, “nós somos belas e os nossos modos são sedutores”.
“Iremos a esse homem”, Arati atalhou, “e o prenderemos com os grilhões do amor, e o traremos até você, humilde e temente.”
E foram ao Buda. Diante dele, dançavam e cantavam:
“Eis a primavera, amigo, a mais linda das estações. As árvores estão em floração; devemos estar felizes. Seus olhos são belos, brilham com uma luz adorável, e você carrega as marcas da onipresença. Olhe-nos: somos feitas para dar prazer e felicidade tanto aos humanos quanto aos deuses. Levanta-te e te junta a nós, amigo; aproveite ao máximo a tua juventude brilhante; afaste os pensamentos sérios da tua mente. Vê nossos cabelos, quão sedosos!, são as flores que emprestam sua fragrância à sua maciez. Vê nossos olhos; neles estão a doçura do amor. Vê nossos lábios; eles são quentes como a fruta amadurecida ao sol. Vê nossos seios, rijos e bem torneados. Deslizamos com a graça majestosa dos cisnes; sabemos canções que encantam e dão prazer, e quando dançamos, os corações aceleram e os pulsos latejam. Vem, amigo!, não nos despreze. Somente um tolo, de fato, jogaria fora todo esse tesouro. Olha-nos, nobre Senhor: somos as suas escravas.”
O Buda, no entanto, permaneceu imóvel às vozes sedutoras. Antes, franziu a testa às lindas donzelas e elas foram transformadas em bruxas.
Desesperadas, elas retornaram a Māra.
“Pai”, Rati gritou, “vê o que ele fez à nossa juventude e beleza.”
“O amor nunca o ferirá”, disse Trishna. “Ele foi capaz de resistir aos nossos encantos.”
“Oh”, suspirou Arati, “quão cruel foi a nossa punição!”
“Pai”, Trishna implorou, “cura-nos desta horrível velhice e feiura.”
“Devolva-nos a juventude!” Rati gritava.
“Devolva-nos a beleza!” Arati implorava.
“Minhas filhas, minhas pobres filhas”, Māra disse à Arati, “compadeço-me de vocês. Sim, ele derrotou o amor. Ele está para além do meu poder, e estou triste por isso. Vocês suplicam que eu lhes devolva a juventude e a beleza... mas, como eu poderia? Somente o Buda poderá desfazer o que o Buda fez. Voltem a ele; admitam que vocês foram culpadas; digam-lhe que estão arrependidas, e talvez ele devolva seus encantos.”
E elas voltaram à presença do Abençoado.
“Bem-aventurado”, imploraram, “perdoe-nos as nossas ofensas. Nossos olhos estavam cegos à luz, e fomos tolas. Perdoai-nos!”
“Sim, vocês foram tolas”, o Abençoado respondeu. “Tentaram destruir uma montanha com as unhas; tentaram morder o ferro com os dentes... Vocês, porém, reconhecem as suas ofensas, e isso já é sinal de sabedoria. Donzelas, ide em paz. Eu vos perdoo!”
E imediatamente as três filhas do Diabo deixaram a sua presença, ainda mais jovens e mais belas do que antes.12

Amor, aí, é apelação erótica... e sofrimento. Mas a douta ignorância13 tem um prêmio, após o erro confessado, na voz do arrependido. É o que não aparece em Vaccha – no trecho que utilizei. Não há “erro”, apenas equívoco. É preciso luz. Longe de ser um mal interpretado “pessimismo”, a Doutrina do Abençoado é uma não afirmação, antes de tudo... mas não pessimista, como querem alguns intérpretes14. Dizer que “tudo é sofrimento” significa, também, saber o que seja o não-sofrer, ou o prazer. A consciência (do Eu e suas consequências) não vem antes da Ignorância e da Informação Inata – alguns reflexos do platonismo, coincidentemente, são muito perceptíveis. A Ignorância produz a Informação Inata; a Informação Inata, a Consciência; a Consciência, os Nomes-e-formas; os Nomes-e-Formas, os Seis Órgãos dos Sentidos; os Seis Órgãos dos Sentidos, o Contato; o Contato, a Sensação; a Sensação, o Desejo; o Desejo, o Apego; o Apego, a Existência; a Existência, o Nascimento; o Nascimento, a Velhice e a Morte. Está tudo ligado: a Sensação, o Desejo, o Apego... a Vida e a Morte. Contra a Morte, a Velhice e tudo aquilo que lhes precede, o remédio é fazer cessar a Ignorância, que está no início de tudo: no Eu que, portador da Informação Inata, porta e produz a Consciência do Eu15 – como está na doutrina do Buda, referente ao Dharma16: “Se o desejo, que se aloja na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí então, morrerá esta paixão e desaparecerá, consequentemente, todo o sofrimento humano.17” Também no cristianismo, quanto menos for o cristão – o seu Eu, naturalmente –, tanto maior será a presença do Cristo e do Espírito, nele18. O budismo “apresenta elementos comuns com os theioi andres19 dos gregos e com as biografias míticas mais tardias de outros fundadores de religiões, como Jesus, Mani, etc.20” Diminuir o Eu, dominar as paixões, sufocar o desejo... idealismos, delírios febris alimentados pela fé no Outro, que pode ser tanto o “não-Eu” quanto Aquele que é maior e melhor que que EU, que é de onde venho, como “coisa causada”. Ah!, as minhas projeções – como na afirmação lúcida e desencantada de Feuerbach21. Já mostrei que a própria propaganda de tais modelos doutrinários é, em si, apelo ao Eu que pode compreendê-la – do contrário, que sentido teria? –, e decidir e desejar... isto ou aquilo.  
Quando Siddhārtha – agora Buda – retorna à Shakya e à casa de seu pai (o rei Shuddhodana), depois de oito anos, Yashodhara, sua esposa, orienta a Rahula, seu filho, que lhe peça a sua herança, antes que o Shakyamuni22 parta novamente, em uma jornada de pregações e ensinos que duraria quarenta anos. O Buda, porém, afirma que tem algo maior e melhor para o seu filho: a sua Doutrina. O menino torna-se monge.
Não havendo o Eu, o laço político-tribal ou familiar – e o próprio nome do filho do Shakyamuni, Rahula23, revela isso –, não há também a identidade, nenhuma. Não haveria razão de o Buda retornar à sua casa, aos seus. Para o bem ou para o mal, é o Eu quem age, consciente ou não, por loucura ou por paixão, na ação e na inação, na fala e na escrita... mesmo naquela dos livros “santos”. Também a regra da piedade cristã ensina que não se deve, a título de estilo e ética, sobrevalorar o Eu, que fala ou escreve – “eu assim”, “eu assado” –; mas, ao contrário, mortificá-lo, reduzi-lo a nada ou, como em um discurso solene, soterrá-lo em uma terça no plural: “Nós estamos aqui hoje...” Sim, porque a carne (os mEus apetites) milita contra o espírito, mEu “homem interior”, mEu “Eu interior”.24  
E é por isso que, no início do Walden, Thoreau anota:

A maioria dos livros omite o eu ou a primeira pessoa; aqui ele será mantido; em relação egocentrismo, esta é a principal diferença. Geralmente não lembramos que, afinal, é sempre a primeira pessoa que está falando. Eu não falaria tanto sobre mim mesmo se existisse alguma outra pessoa que eu conhecesse tão bem.25

Thoreau, o “pai do anarquismo” e rebelde ao estilo hipócrita dos seus contemporâneos, quer sobrepor os modelos e a “regra da piedade”26. Ora, não há quem conheçamos melhor do que nós mesmos, embora, para nós mesmos, sejamos o nosso maior enigma. No entanto – e juntamente com os conceitos de Stirner, Marx, Feuerbach, Freud e outros que tenho mostrado seguidamente –, essa parece ser a “perspectiva” mais plausível, e certamente a mais mundana. A verdade pode muito bem nada ter a ver com... religiões. E, afinal, o que não é mundano? Verdade, mentira, candura, leviandade, justiça... Está tudo em mim, em minha mente e em minhas ações, para o meu deus ou para meu companheiro, pai, irmão, amigo, mulher... meu céu e meu inferno. Aqui, em minha mente, como em uma catedral, sou santo ou herege... mas a doutrina é minha, sempre minha. Sim, pois depende da minha fé, da minha hermenêutica, da minha vida e dos lugares e coisas e pessoas que me fazem ser como eu sou, agora, enquanto penso sobre tudo isso. Em tudo e sobre tudo, o amour-propre – ou meu instinto de preservação – é o que me mantém, no desejo ou no desejo de não ter desejo. Não há saída, e tanto a liberdade quanto a culpa por sua ausência, etc., é minha.



  • 1 Talvez fosse prudente falar em “budismos”, dado às linhas em que ele, hoje, se apresenta. Neste sentido, e como não é a minha intenção fazer um “tratado” sobre velhas e novas escolas – e para não ser desonesto com o leitor –, recomendo o verbete “Budismo”, em: ELIADE, Mircea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 67-85. Ver ainda: ARVON, Henry. O budismo. Lisboa: Publicações Europa-América Ltda., [s.d.]. p. 44-5. (Col. Saber); NIWANO, Nikkyo. Shakyamuni Budda: uma biografia narrativa do Buda histórico. São Paulo: Cidade Nova, 1987; e: LEVENSON, Claude B. Budismo. Porto Alegre: L&PM, 2009. (Col. L&PM Pocket, 758: Enciclopédia). São literaturas de fácil acesso (e leitura) em português.
  • 2 ELIADE; COULIANO, 2003, p. 69.
  • 3 “Atentai a este fato: Buda não é um corpo físico, é a Iluminação. O corpo físico perece, mas a Iluminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma e na prática do Dharma. Aquele que apenas vê o meu corpo”, diz o Buda, “não me vê realmente. Somente aquele que aceita meu ensinamento consegue me ver.” (DN 16, sutra Mahaparinibbana. In: A DOUTRINA de Buda. 3. ed. Minato-ku, Tokyo, Japan: Bukkyo Dendo Kyokai, 1984. p. 13. [§ 5]). 
  • 4 Visuddhi Magga, 16.
  • 5 Aqui, é preciso deixar claro que a lógica de Vaccha, simplista, tem a seguinte estrutura: se A não é verdadeiro, então não-A, é. É contra a horizontalidade rasteira de tal raciocínio que o Buda se impõe.
  • 6 ELIADE; COULIANO, 2003. p. 70.
  • 7 E no famoso soneto de Camões: “O amor é um fogo que arde sem se ver...” etc. Cf. CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos. In: _____. Camões: verso e prosa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 32. (Col. Leitura).
  • 8 BUARQUE, Chico. Almanaque. In: _____. Almanaque. São Paulo: Abril, 2010. 1 CD player. Faixa 5. (Col. Chico Buarque, 10).
  • 9 Citado em: BARAQUIN, Noëlla; LAFFITTE, Jacqueline. Arthur Shopenhauer. In: _____. Dicionário Universitário dos Filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 276.
  • 10 DICKINSON, Emily. Poemas escolhidos. Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 57. (Col. L&PM Pocket, 436).
  • 11 Ou bo, em Bodh Gaya, no nordeste da Índia. Por causa da Bodhi é que, segundo consta, o nome de Siddhārtha Gautama é mudado para Buda, que, tanto em páli como em sânscrito, significa “Iluminado”, “Desperto”.
  • 12 Com pequeninas modificações, adaptações e correções, utilizo a obra de: HEROLD, A. Ferdinand. The life of Buddha: according to the legends of Ancient India. Whitefish, Montana - EUA: Kessinger Publishing Company, 2007. p. 123-5.
  • 13 Utilizo o conceito, criado por Nicolau de Cusa (1401-64), livremente, e para o sentido que aparece no texto, simples e definido. Para a sua utilização mais “acadêmica”, e conforme o seu autor, ver: CUSA, Nicolau de. A douta ignorância. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. (Col. Filosofia, 148).
  • 14 Cf. ELIADE; COULIANO, 2003. p. 69.
  • 15 Cf. ELIADE; COULIANO, 2003. p. 71.
  • 16 Isto é: a verdadeira Doutrina, os preceitos éticos do budismo.
  • 17 Vinaya, Mahāvagga 1-6 e SN 56-11-12, sutra Dharmmacakrapravartana. In: A DOUTRINA de Buda. 3. ed. Minato-ku, Tokyo, Japan: Bukkyo Dendo Kyokai, 1984. p. 38-9. [§ 1]).
  • 18 No evangelho se são João, por exemplo, João Batista diz aos seus discípulos remanescentes, que reclamam de seus companheiros, agora, estarem seguindo ao Cristo: “Convém que ele [o Cristo] cresça e que eu diminua. O que vem de lá de cima [o Cristo], é superior a todos. O que vem da terra [ele, João], é da terra, e fala da terra. O que vem do céu, é superior a todos.” (João, 4, 30-31, Vulgata). E o apóstolo Paulo, em Colossenses 3, 5: “Fazei, pois, morrer o que em vós pertence à terra: devassidão, impureza, paixão, mau desejo e a tal cupidez que é uma idolatria.” (TEB). Não faltam referências desse tipo, por todo o Novo Testamento, principalmente. E nas obras de todos os moralistas cristãos – que são milhares – é tema esgotado, lugar dos mais comuns.
  • 19 Isto é: “Homens deuses”, como Hercules, etc.
  • 20 ELIADE; COULIANO, 2003. p. 68. Neste sentido, ver em especial os artigos “Akhenaton, o Iluminador”, “Moisés, nosso Mestre”, “Jesus de Nazaré”, “Mani” e “Buda”, em: BRUNNER-TRAUT, Emma. (Org.). Os fundadores das grandes religiões. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
  • 21 Isto é: “A religião é a cisão do homem consigo mesmo: ele estabelece Deus como um ser anteposto a ele, Deus não é o que o homem é, o homem não é o que Deus é. Deus é o ser infinito, o homem, finito; Deus é perfeito, o homem imperfeito; Deus é eterno, o homem transitório [etc.]. O que deve ser demonstrado é então que esta oposição, que esta cisão entre Deus e homem, com a qual se inicia a religião, é uma cisão do homem com a sua própria essência.” (FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. p. 77). 
  • 22 Literalmente: “Sábio (muni) dos Shakyas”.
  • 23 “Na época em que sua esposa, Yashodhara, deu luz a seu filho, Siddhartha estava num jardim, fora do palácio. Shuddhodana, exultante pela notícia do nascimento, imediatamente enviou um mensageiro para informar o príncipe. Assim que recebeu a mensagem, Siddhartha murmurou para si mesmo: ‘Ah, nasceu Rahula!’ ‘Rahula’ significa obstáculo, ou laço. Tem-se sugerido que quando Siddhartha, inconscientemente, disse ‘Rahula’ queria dizer que, justo quando estava tomando a decisão de renunciar o mundo, surgiu um laço para bloquear seu caminho.” (NIWANO, 1987, p. 22).
  • 24 Como em 2 Coríntios 10, 3, no desiderium intimum do Apóstolo: “De fato [sic], embora vivendo na carne, não militamos segundo a carne.” (Vulgata). E em Romanos 7, 22: “Pois eu me comprazo na lei de Deus, enquanto homem interior, mas em meus membros descubro outra lei que combate contra a lei que a minha inteligência ratifica; ela faz de mim o prisioneiro da lei do pecado que está em meus membros. Infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que pertence à morte?” (TEB). No Novo Testamento, principalmente nas cartas do apóstolo Paulo, referências dessa natureza são bem comuns. 
  • 25 THOREAU, H. D. Walden. Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 17. (Col. L&PM Pocket, 884).
  • 26 Mesmo uma leitura desatenta de A desobediência civil, de 1848, mostraria isso. Cf. THOREAU, Henry David. A desobediência civil. 7. ed. Porto Alegre: L&PM, 2009. (Col. L&PM Pocket, 17).

Minha foto
Philipéia, Parahyba, Brazil
"É graduado em Filosofia, com mestrado em História da Filosofia (UFPB). Doutor em Teologia (EST-IEPG), na área de Filosofia da Religião, com especialidade em Filosofia Antiga, Patrística e Medieval. Professor de Filosofia na UEPB-CG, Patativa Moog também é escritor de despropósitos e toca em uma banda 'alternativa' (@MadalenaMoog), que é onde solta as suas bruxas e faz, do tédio, samba." (Helena de S. Lume)

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